A Água; se estiver represada, arruma uma fresta para se libertar. Pode ser benéfica ou maléfica, depende do momento. Mesmo que esteja solidificada, sempre volta ao seu estado original. A Água cura mas também destrói. Interessante como este elemento é impetuoso e tranquilo, instável e rígido, misterioso e ao mesmo tempo claro. Por fim, a Água é tão simples de ser entendida que se torna complexa...Acredito que tenho um pouco desta Água em mim. (Wallace Santos)

domingo, 7 de março de 2010

Algo novo começa a surgir





            Acordei! Fiquei de manha me enroscando nos lençóis enquanto tentava criar coragem para levantar...
            Depois do momento gatinha manhosa abri os olhos num sorriso e logo pensei: - Será que realmente aconteceu?! Eu não acreditava que pela primeira vez em toda minha vida, as coisas começavam a dar certo para mim. Busquei por Anna em meu quarto para que pudéssemos fofocar mais um pouco, mas pelo vista ela já havia ido embora.
            Sem mais delongas tratei de tomar um banho, e em sendo este um dia especial decidi encher a banheira. Fiquei “cozinhando” na banheira por um bom tempo, coberta de espuma dos pés a cabeça.
            Depois que saí do banho e me arrumei, desci para tomar café da manhã com minha família que aguardava à mesa. Meu estado de euforia era notado por meus pais que ficaram animados em me ver daquele jeito...
            Entre uma torradinha e outra, uma fatia de bolo aqui e acolá, Mamãe resolveu perguntar a respeito da minha noite, eu sem graça e tentando conter o esboço de um sorriso, afirmei ter sido muito boa, mas não tive coragem que contar maiores detalhes ali na frente de Papai. Pairou neste instante um silêncio gostoso de ouvir, eu conseguia escutar a felicidade que meus pais sentiam me vendo tão radiante e ao mesmo tempo ouvia o estrondo dos trovões impacientes dentro do meu peito, ansiosos por um telefonema.
            O sábado tinha começado do jeito que eu gosto! Ruas tranquilas, crianças brincando, a brisa leve assanhava as folhas das árvores e eu observava tudo da sacada da janela do meu quarto, porém a única coisa que me incomodava era o fato de o telefone não tocar!
            Já passava das dez horas da manhã e me era inconcebível a idéia de que depois de tudo que acontecera na noite passada nada fosse levado em conta. Minha vontade era pegar o telefone e ligar, mas fiquei me segurando para não dar o braço a torcer, eu tinha que ter certeza de que estava mudando, mas não somente por fora...
            Andei por toda a casa, desinquieta! No sofá da sala ou no quarto, a hora passava e a angústia da espera me consumia ainda mais, como uma espécie de tortura medieval ou coisa melhor elaborada, talvez!
            Mamãe percebeu minha aflição e aproveitando-se do seu dia de folga, e também do fato de que meu pai já havia saído para o trabalho, me chamou para ter uma daquelas conversas de mulher que durou bastante tempo. Foi então que contei para ela o tinha rolado na noite passada, ouvi desde votos de felicidades (felicidades para algo que nem começou?!), até conselhos sobre sexo (calma aí! Minutos atrás eu era quase uma freira!). Expliquei, portanto que estava aflita por não ter recebido sequer uma ligação, foi quando de repente soou o toque da campainha, fui atender a porta e quando abri me deparei com uma belíssima e aveludada flor cor-de-rosa. Reymond me brindava com uma rosa, com a flor estendida em minha direção fazendo uma linha de perfeito cavalheiro.
            Fiquei embasbacada na frente dele, sem saber se o convidada para entrar, se o abraçava, se o beijava, ou se chorava de felicidade. Um turbilhão de sentimento fez confusão em minha cabeça, mas achei melhor optar pelo que mais sensato seria a fazer naquele momento, então o convidei para entrar e o apresentei a minha mãe, que entendendo a situação tratou de se retirar discretamente nos deixando a sós para melhor conversar.
            Eu nunca imaginaria que aquele cara fosse agir desta maneira comigo, um gesto tão espontâneo que fez com que eu me sentisse plena e pelo visto ele estava começando a ficar parado na minha. Como já não era de se esperar a conversa durou muito e ao final ele se despediu e eu o acompanhei até a saída.
            Parados em frente a minha casa nós não sabíamos o que fazer, eu dei um tchauzinho e me virei, mas foi aí que ele fez o que tanto esperava. Me chamando pelo nome ele segurou em uma de minhas mãos, olhou fundo nos meus olhos e me roubou um beijo, dizendo em seguida: - A gente se vê!
            Depois disso meu sábado foi maravilhoso, tudo que fiz no decorrer do dia fluiu muito bem! As coisas estavam dando certo para mim! Melhor era não festejar antes da hora para não me decepcionar, mas acho que estávamos começando a nos envolver.




sábado, 6 de março de 2010

O Princípio da Libertação – Parte III

A Festa


            A semana passou parecendo voar e de repente estávamos já na sexta-feira. Não muito diferente da minha primeira aparição após a mudança no visual, o assunto principal do colégio era apenas eu. Já havia inclusive disputas entre os garotos para ver qual deles sairia comigo, e entre a maioria das meninas o que circulava era o sentimento de despeito, ou inveja eu diria. Sem dúvida aquilo tudo me enchia de felicidade, tanto a ponto de explodir.
            De uma hora para outra eu deixava de ser alguém invisível e me tornava a figura mais popular, como se fosse um passe de mágica.
            Mas sei que sozinha eu não conseguiria me tornar tão admirada, contava sempre com minha amiga Anna que não hesitava em me dar conselhos, ensinando a me exibir. Ela tem sido uma boa influência para mim, e com certeza é uma amiga com a qual poderei contar pelo resto de minha vida...
            Não somente a escola, mas também a cidade (que não é muito grande) estava aos poucos se rendendo aos encantos de Vanilla...
            Em se tratando de um fim de semana, eu não tinha para onde ir depois de toda aquela rotina, não tinha hábito de sair para espairecer ou coisa do tipo, ficava mesmo enfurnada em casa no meio dos livros, mas desta vez de tanto que Anna meu perturbou o juízo, decidi por planejar algo para sexta-feira à noite. Ia aparecer no point onde os descolados costumavam ir para se divertirem.
            Depois da aula fui para casa planejar meu modelito, após um demorado banho fiquei trancada dentro do quarto durante horas, tentando escolher a roupa que faria a diferença naquela noite. Eu já havia arrumado o cabelo e desta vez tinha me maquiado de forma correta. Um pouco mais de rimel nos cílios realçaram ainda mais a expressão hipnótica que me meus olhos transmitiam.
            Passado mais um tempo e eu estava pronta, vestida de um jeito sutil, mas que com certeza chamava a atenção. Me despedi de meus pais e fui para point que até então só ouvira falar.
            Chegando ao tão esperado lugar, os melhores olhares foram voltados para mim. Os filhos da alta roda faltavam pouco me devorar, tamanha era a indiscrição da admiração. Confesso que fiquei um tanto sem graça, mesmo assim não deixei que este sentimento transparecesse e como se nada estivesse acontecendo segui um curto caminho em direção a uma mesa, onde fiquei sozinha, mas não por muito tempo.
            Fiz sinal para uma garçonete que por ali passava e pedi um suco de frutas tropicais, e enquanto aguardava por meu pedido, fui meio que surpreendida por um gesto que significava um convite para dançar.
            Com uma das mãos estendida, e parado em minha frente estava aquele cara, parecia que finalmente ele criara coragem de me encarar, mas ainda sim eu o deixa constrangido.
            No bar uma música soava animada, agitada, ele e eu dançamos com os corpos separados e estranhamente ele mal puxou um assunto, deu a entender que estava ali comigo desejando estar em outro lugar. Sem dúvidas o medo dele em estar na minha presença estava estampado em seu rosto, irônico, pois antes quem sentia tal terror era eu quando cruzava com ele nos corredores do colégio.
            O meu suco ficara pronto e vi a garçonete que me atendera, trazer numa bandeja, o copo resfriado com o líquido de tom avermelhado enfeitado com pedacinhos de frutas e pequenos adereços de um típico drink, foi aí que paramos de dançar e pude iniciar um diálogo descente.
            Nos sentamos à mesa e fui logo perguntando o nome dele (como se eu não soubesse o nome do cara mais bonito e popular de toda a cidade) e ele disse Raymond, este era seu nome, numa gentileza ele retribuiu o gesto e perguntou o meu nome e eu mais que segura respondi: - Vanilla!
            Me pareceu que a forma segura com a qual eu me apresentei, mexeu ainda mais com aquele homem, que parecia tremer por dentro enquanto que do lado de seu rosto, uma tímida gota de suor descia pelo contorno de sua cútis, eram sinais do nervosismo que ele insistia em não demonstrar.
            Num vai e vem de palavras (sendo a minhas firmes e as dele um tanto inseguras), conseguimos ao longo da noite desenrolar um bom papo e aos poucos Raymond foi se soltando e se mostrando confiante como sempre me pareceu (aparentando confiança não somente para mim, mas todos a sua volta, como era de costume).
            Noite adentro nos dançamos, rimos, conversamos, bebemos e as pessoas ao redor não acreditavam em que seus olhos viam. A garota que outrora mal passava de uma figura apática e completamente insossa, se tornava mesmo uma linda mulher e estava interagindo com o objeto de desejo de todas as fêmeas (e também de alguns machos) da região.
            Definitivamente o mundo deu inúmeras voltas para que este acontecimento fosse presenciado por todos os tops da região, e o melhor de tudo era que ao contrário do que devia ser, quem detinha o controle nas mãos era eu. “A música tocava a meu bel prazer” e a sensação de estar por cima, me causava tamanho frenesi.
            De repente as luzes caíram, chegava o momento romântico da noite, e o som frenético de instantes atrás foi substituído por uma baladinha que embora fosse um tanto melosa, tinha um tom gostoso de ouvir. E para aqueles que estavam se paquerando, não havia nesta noite hora mais oportuna que esta.
            Daí me veio o conflito, pois eu que minutos atrás tinha todo o esquema em mãos, não sabia o que fazer, fui surpreendida. Foi aí que percebi que estava sendo novamente surpreendida!
            Raymond passou com delicadeza sua mão pela minha cintura e me tomou em seus braços, tive a sensação de estar num campo de batalha frente a frente com um doce “inimigo”, isso para mim era muito louco, eu nunca tinha estado tão perto de um homem assim. Estávamos mesmo tão perto um do outro, que conseguíamos sentir nossas respirações. Nesta hora não falamos nada, (falar e estragar o clima do momento?!) ficamos ali nos balançando levemente de um lado para o outro, embalados pelas canções, e nas seqüências de hits selecionados pelo DJ a música que mais me tocou foi Island In The Sun, cantada pela banda Weezer.
            A melodia era perfeita, mas a letra foi que mais me chamou a atenção, muito embora nós não estivéssemos em clima de férias e sequer estávamos numa ilha, como dizia a letra da canção, tudo aquilo fazia muito sentido como, por exemplo, o fato de termos rido e nos divertido. Tudo nos reportava a nossa própria ilha nos fazendo tão bem a ponto de não sermos capazes de controlar nossos cérebros.
            E por não controlar nossos cérebros o “inesperado” aconteceu, e ao som daquela música eu dei o meu primeiro beijo com o cara que naquele espaço, era o mais perfeito de todo o mundo. Sem dúvida o meu primeiro beijo não poderia ter acontecido de maneira mais primorosa. O lugar certo, com a pessoa certa, o clima e música mais certos ainda...
            Ficamos ali nos beijando sob os holofotes baixos, transportados para outro universo, enquanto que ao redor o burburinho era inevitável. Algumas cantavam minha vitória com um tom de desdém, outras (e também outros) queriam estar no meu lugar, ouvi outros comentários, mas o importante era estar ali, e nada mais...
            Depois que dançamos um pouco mais, nos sentamos novamente à mesa e ficamos conversando durante um longo período e a noite (festa) já estava chegando ao fim. As pessoas começavam a ir embora e rapidamente o pub passava de lotado a quase vazio. Foi aí que me despedi de Raymond, mas ele se prontificou a me levar em casa e eu aceitei a proposta.
            Não muito tempo depois estávamos dentro do carro dele, estacionados na porta da minha casa que na verdade não ficava longe do barzinho. Trocamos mais uma dúzia de palavras sem jeito (devido ao clima romântico), nos beijamos uma última vez por esta noite e finalmente nos despedimos.
            Quando entrei em casa e já em meu quarto, não conseguia acreditar que estava vivendo na realidade, eu me beliscava para tentar acordar, mas era a mais pura verdade. Anna e eu ficamos conversando durante quase todo resto de noite, rindo e dado gritinhos eufóricos (coisa de meninas), tanto que meus pais acordaram.
            Umas batidas à porta, meu pai checava se estava tudo bem comigo e sorrindo o atendi entreabrindo a porta e afirmei convicta que tudo estava perfeitamente bem, ele vendo em meu rosto a felicidade estampada se tranquilizou e voltou para seu quarto, tranquilizando também minha mãe que havia acordado assustada.
            De tanto fofocar, Anna e eu acabamos por cair num profundo sono. E eu sonhando, mal podia esperar pelo nascer de um novo dia.

domingo, 31 de janeiro de 2010

O Princípio da Libertação – Parte II





Eu repito meus queridos. Pois quem um dia olhou no fundo dos meus olhos, nunca mais foi o mesmo.


No dia seguinte, mal o sol se levantava e eu já estava de pé, ansiosa para chegar na escola e provocar nas pessoas o impacto que eu imaginava que causaria. Tratei logo de me arrumar, e dessa vez a saia que vesti não era tão cumprida como aquelas que usava. Para acompanhar, calcei meias na altura dos joelhos (três quartos) para dar um ar não muito agressivo, tipo “estou mudando, mas nem por isso sou uma vadia”. Um singelo par de sapatos com médio salto, complementavam o visual. E desta vez eu aposentei para sempre os meus óculos, de agora em diante apenas lentes de contato. E fechando o conjunto, vesti uma blusinha de corte um pouco mais delineado que mostrava de forma sutil as curvas do meu corpo. Lembrando que estava indo para uma escola, e por isso o visual não devia chamar tanta atenção assim, mas de fato era algo bem diferente daquilo que usava antigamente.
Chegando ao portão principal do colégio eu podia notar um burburinho que muito certamente estava relacionado a mim, fingi que não sabia o que estava acontecendo e entrei naturalmente, como era de costume.
Minha passagem pelos corredores do prédio despertou olhares, comentários, e frisson. Tive que disfarçar para não deixar transparecer a alegria em estar sendo notada, admirada eu diria. Quanto mais as pessoas me olhavam, mais indiferente eu parecia.
Enfim cheguei ao meu destino que era a sala de aula do primeiro horário, pude perceber também, os rapazes comentando entre si coisas que geralmente homens dizem um para o outro a respeito de mulheres. Foi aí que minha ficha caiu e vi que minha repaginada acertava de cheio o alvo.
Eu me sentei no meu lugar de costume e não muito tempo depois o professor chegou e sem disfarçar ficou chocado ao me ver, engolindo seco e esperando numa pausa antes de cumprimentar a turma. Depois do espanto, ele cumprimentou a turma e sem muito demorar começou a aula.
Vira e mexe o prof me olhava disfarçadamente só para dar uma conferida no material, sem acreditar que aquela menina outrora fora do esquadro, escondia por trás de roupas estranhas uma belíssima jovem, com olhos inebriantes... Os olhos! Esses sim, minhas melhores armas, verdes cor de veneno.
Durante o tempo de aula foi impossível que todos conseguissem de fato prestar atenção no conteúdo ministrado, eram sempre sussurros e Vanilla pra lá e pra cá. Toda aquela situação me proporcionou um prazer indescritível, eu sorria por dentro.

E o alarme tocou, a primeira aula terminava...

Saí por um instante para tomar água e desfilar um pouco mais pelos corredores, tudo que se ouvia falar era apenas meu nome. E na volta para a sala, aconteceu algo surpreendente mágico ou oportuno talvez, dei de cara com o cara mais lindo de todo o colégio e nesta hora não fui eu quem ficou desconsertada, mas ele que sempre foi cheio de atitude, ficou sem jeito ao olhar para mim. Fiz questão de fixar meus olhos nos dele. Eu era a caçadora espreitando a presa indefesa, que tremia...
Passo a passo eu voltava para a sala de aula parecendo que apenas eu caminhava no centro do corredor, as pessoas abriam caminho para que eu deslizasse nesta minha passarela, esguia eu seguia sem ao menos olhar para trás.
O tempo passou e de repente a hora do intervalo chegou, no refeitório nunca tinha visto expressões tão surpresas, eu segurando um sanduíche e um copinho de suco apenas procurava de longe um lugar para me acomodar. Naquele momento eu tinha o “mundo” em minhas mãos, todos queriam ficar perto de mim, me oferecendo lugares à mesa, mas recusei e como antigamente preferi ficar no meu cantinho de sempre, desta vez não por exclusão, mas sim por escolha.
O dia passou meio que rápido demais e já estava na hora de irmos todos embora, e de todas as coisas que me ocorreram durante este período, a que mais fixou em minha memória foi o semblante estremecido daquele lindo rapaz.
Eu mal esperava a hora de sentir novamente o medo nos olhos da minha acuada presa...


domingo, 24 de janeiro de 2010

O Princípio da Libertação



Isso eu lhes asseguro meus queridos. Pois quem um dia olhou no fundo dos meus olhos, nunca mais foi o mesmo.


Depois de ter vencido as barreiras da minha intimidade, já me sentia ainda mais diferente, embora tivesse curiosidades que ansiavam por esclarecimentos, agora eu passara a me observar de modo menos crítico, estava mais aberta a novas sensações, me sentia livre e pronta para começar a viver.
Instantes após ter atingindo o ápice do até então, saciado desejo de prazer, fui para o banheiro e lá permaneci por horas sob o chuveiro, sentido a água cair em meu corpo, eu ainda estava em estado de nirvana e a água parecia cair em slow motion. Tentava aos poucos assimilar toda aquela informação que me veio de repente, atropelando aquela criatura que há pouco era a mais ingênua de todas as meninas.
Terminado o banho caminhei nua pela casa vazia, seguindo em direção ao meu quarto, abri meu guarda-roupa e tudo que vi foram roupas apáticas sem vida alguma, e mediante a este meu novo momento aquelas roupas não combinariam com a fêmea que surgia.
Algumas peças eu pude aproveitar, fazendo alguns ajustes aqui e acolá. Em minha máquina de costura, fiz modificações nas peças que pudessem ser aproveitadas.
Não muito tempo depois meus pais chagaram em casa, cada qual de seu trabalho e se depararam com uma filha que eles não sabiam que tinham. Com roupas notoriamente alteradas e usando da mãe, uma maquiagem meio borrada (coisa que nunca tinha usado).
A princípio meus pais não entenderam nada daquilo, se era uma revolta ou uma tentava frustrada de mudança. Chamei atenção nem tanto pelas roupas, pois sabia mesmo costurar e por isso havia feito bons modelos, mas a maquiagem que foi a razão da estranheza, pois eu nunca tinha me maquiado e por isso não sabia usar as combinações adequadas.
Daí minha mãe sorriu, me tomou pela mão e disse a meu pai que nos deixasse a sós para que tivéssemos uma conversa de mulheres. Minha mãe e eu conversamos durante horas, e ela sentiu a minha necessidade de mudar a aparência, eu estava me tornando uma mulher e não queria continuar a usar aquelas roupas bregas e “fora de época”. Não fazia sentido, uma jovem usando peças dignas de uma velha caduca (foi o que disse a minha mãe, ainda bem que ela concordou).
Minha mãe, uma mulher bem alinhada também nunca entendeu a razão de eu “gostar” daquele estilo meu. Na verdade eu nunca gostei, mas minha tia avó era quem fazia questão em me vestir, trazendo consigo para que eu usasse, os trapos que ficariam muito melhor nela(minha tia avó é altamente conservadora, com hábitos rigorosos  e sua voz tem forte poder sobre toda nossa família e também naquela sociedade, visto que ela possui influências que são bastante consideráveis), e para não contrariá-la nunca me opus a situação, por medo talvez. Minha mãe confessou não ter tido pulso para evitar a situação, pois acontecera a mesma coisa com ela em sua juventude...
No dia seguinte saímos às compras, rodamos todas as lojas da cidade e renovamos todo o meu guarda-roupa, eu nem tinha ido para escola, aproveitando a folga que minha mãe teve do trabalho, tiramos o dia todo para fazer “coisas de menina”.
Enquanto trocava de manequim inúmeras vezes eu pensava:
- Este é o dia mais feliz da minha vida...



quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Vanilla - II

Contudo a Vanilla novamente emana seu perfume doce,
Chorando lágrimas e ou gotículas de sangue...
Será que é seu próprio sangue ou será o passado que a atormenta?
Contudo a Vanilla exala seu doce cheio no ar junto com as lágrimas de sangue
Que agora já são vapores.
Agonizar é uma etapa da vida
E um dia ela saberá reconhecer
Que o sofrimento e a melancolia de agora lhe darão forças para o futuro.
Os belos olhos de ressaca úmidos pelo pranto tem um brilho todo especial...
Ergue a cabeça, alça vôo e admira o tempo indiferente.
Assim será e assim deve ser...
Mais uma vez eu pergunto:
- Você conseguirá resistir ao encanto de Vanilla?



(Wallace Santos)



sábado, 9 de janeiro de 2010

Atormentada - As sensações que a menina sentia



Às vezes os sabores mais amargos do mundo, me dão forças para encarar o fel da minha vida...

           
            É esta a filosofia que atualmente aplico no meu dia a dia, foi assim desde que comecei a me descobrir, pois aquela menina tola aos poucos começara a ficar para trás dando espaço a uma versão melhorada e sem “complexos”.
            Eu me sentia passando por uma metamorfose, a fase de lagarta estava quase no fim, chegava a hora de um breve estágio de casulo para que no fim vigorasse apenas a figura imponente da borboleta.
            Os dias passavam e cada vez mais eu continuava a investigar meu corpo, descobrindo novas sensações, ainda éramos Anna e eu, e ela quem me ensinava coisas a respeito da vida e seus prazeres. Aos poucos fui deixando de lado os óculos fundo de garrafa, preferi deixar o rosto ainda mais a mostra.
            Minhas idas e vindas tanto de casa para o colégio, quanto para quaisquer outros lugares estavam se tornando mais interessantes. Não havia lugar por onde passasse que não fosse notada, mas de fato no colégio (onde ficava a maior parte do tempo), as coisas fluíam ainda mais...
            Nos tempos da 8ª série, nas aulas de educação física eu sempre ficava acuada, sentada na arquibancada enfurnada nos livros, enquanto via de longe os alunos e alunas mais descolados interagindo entre si. Para mim era atemorizante pensar em estar no meio daqueles ícones de popularidade, das muitas vezes que fui requisitada a “participar” dos círculos sociais era quando servia de escrava apanhando as toalhas e água para os demais.
Não passava de uma mera ajudante, mas isso contribuiu para que eu conseguisse aflorar e somente ser de fato notada no momento certo. Mesmo à distância, arrumava uma maneira de atrair alguns olhares, pois às vezes, enquanto estudava sentada na arquibancada (usando uma saia que parecia ter sido de uma tia avó solteirona e recalcada), cruzava as pernas e olhava por cima dos óculos só para ver se tinha alguém olhando, e o legal que sempre tinha um gostosinho espiando para mim.
Mas não somente nas aulas de educação física que eu “aprontava”, estava constantemente fazendo leves insinuações, sem perder obviamente, o título de boa moça. Tudo que fazia era com certo receio, ficava com remorso em determinados momentos, e muitas vezes chegava a me castigar por isso.
Acho que o período de transição entre a infância e a adolescência foi o mais conturbado, os conflitos de personalidade, crises existenciais, tudo somava para um colapso iminente (que por sorte não ocorreu).

Meus hormônios estavam mesmo à flor da pele, eu ficava mesmo excitada apenas com um leve golpe de vento no pescoço, é como diz o ditado: “cabeça vazia, oficina do diabo”. E muito embora estivesse com a cabeça repleta de coisas a pensar, mesmo assim, meus tormentos vinham com toda a força. As garotas da minha idade tinham no máximo alguns arrepios de certos desejos, nada que não fosse indomável quanto o calor que eu sentia, tanto que parecia que um vulcão em mim estava prestes a explodir, isso literalmente falando.
Anna me explicou que algumas meninas tem desejos ocultos e que por isso eu ficava tão desnorteada às vezes, mas que não era para me preocupar com isso e sim me render aos meus caprichos, pois não havia mal em ceder às vontades da carne, uma vez que o ser humano vive para saciar-se de prazeres.
De tanto ouvir aos conselhos de Anna, acabei certa vez seguindo meus instintos. Eu aproveitei que estava sozinha em casa, meus pais trabalhavam, eu chegara da aula e o dia parecia não terminar, de repente bate aquela vontade, pareço não ter domínio sobre minhas ações, o suor descia gota a gota no rosto, enquanto que os olhos permaneciam paralisados, o corpo todo arrepiou, não como num susto ou sensação de medo, tratava-se de um arrepio diferente de todos que já havia sentido. As batidas do coração tornavam-se cada vez mais rápidas, pensei inclusive que fosse morrer, a garganta estava seca e respiração bastante ofegante.
Algo surpreendente e inusitado, estranho e magnífico, nojento e extremamente natural, fora a primeira vez que me masturbara...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Atormentada


Eu sou Vanilla, atualmente uma jovem decidida, linda, sensual (e não tenho vergonha de ser assim), me arriscaria a dizer que faço o tipo ninfeta, mas prefiro parecer distraída para não ficar vulgar. Sempre consigo o que quero apenas fazendo um charminho, usando do meu poder de persuasão vou ao limite das minhas ambições. Posso dizer que sou uma mulher em parte realizada, pois o que eu mais almejo é algo que infelizmente não alcançarei (talvez seja por isso que aparento ser insensível às vezes)...
À primeira vista quem me vê simplesmente chega a conclusão de que já nasci seja dona do meu próprio destino e que não tenho preocupações a não ser com minha aparência e a maneira como irei me “insinuar” para esta sociedade vil e hipócrita. Mas para aqueles que tem esta concepção a meu respeito, afirmo que estão inteiramente enganados.
No princípio nem sempre fui assim convicta das coisas que quero, na verdade as pessoas me olhavam como uma menina perfeita, dotada de inteligência, meiguice, timidez (estas papagaiadas de menina virgem e ingênua), eu era marionete posta nas mãos daqueles que traçavam meus caminhos sem ao menos saber minha real opinião.
Em casa, o motivo de orgulho para meus pais (e para toda família de modo geral), na vizinhança todos me tinham como a filha boazinha e inúmeras vezes cansei de ouvir:
- Eu queria que minha filha fosse assim como você!

Nossa! Quão terrível a sensação de não poder ser eu mesma, simplesmente porque se fosse o contrário de todo o estabelecido, seria de imediato criticada, apedrejada ou crucificada talvez.

Na escola, os professores elogiam a menina de óculos de fundo de garrafa (insegura e atrapalhada), quanto que os colegas de sala não poupavam nem mediam esforços em fazer chacotas e outras brincadeiras de mau gosto e inclusive colocar apelidos nada amigáveis, com a exclusiva intenção de me magoar.
Eu realmente não tinha muitos amigos, éramos sempre Anna e eu, e ela sempre me ajudou nos momentos que mais precisei...
Vanilla, uma menina sem vontade própria, alienada, “inanimada”, triste e solitária. Acredito que a infância foi a pior época de minha vida, por mais que estivesse rodeada de pessoas, permanecia sozinha.

Já na minha adolescência comecei a ter um pouco mais de autonomia, muito embora ainda permanecesse solitária e ainda sendo ridicularizada, com apenas um singelo sorriso tinha no pensamento a certeza de que conseguiria ter o menino mais bonito de toda cidade. A natureza fora generosa comigo, me dando beleza de sobra, tanto para mexer com o juízo dos rapazes, quanto para matar de raiva e inveja as outras meninas. Ainda com meus óculos fundo de garrafa, (agora eu menos manipulada, mas ainda à sombra da família), fazia um tipo que todo gavião adoraria pegar.
Aos poucos eu começava a me libertar e começara também a descobrir meu bem maior, a sexualidade. Inúmeras vezes eu chegava em casa atormentada, me trancava em meu quarto e ficava horas e horas em frente ao espelho admirando meu corpo nu.

Este sem dúvidas foi o início, e eu começara enfim, a me tornar Vanilla...